Dominique Boutonnat, presidente da principal instituição cinematográfica francesa, foi condenado na sexta-feira a três anos de prisão, incluindo dois de pena suspensa, após ter sido considerado culpado de agredir sexualmente o seu afilhado em 2020.
O produtor francês poderá cumprir a pena de um ano de prisão em casa usando uma pulseira eletrónica, disse o tribunal criminal de Nanterre, nos arredores de Paris.
À saída do tribunal, Boutonnat, de 54 anos, reafirmou a sua inocência e a intenção de apelar do veredito e da pena.
Em comunicado, anunciou que deixaria a presidência do Centro Nacional de Cinema de França (CNC), que supervisiona o financiamento estatal de filmes e TV e cujas funções incluem supervisionar medidas para conter a violência sexual na indústria.
Durante uma audiência a 14 de junho, o Ministério Público solicitara três anos de prisão suspensa, com o promotor a declarar: “Chegámos muito perto de algo que teria sido criminoso”, disse o promotor.
O poderoso chefe do CNC, considerado por alguns como símbolo da impunidade de que há muito beneficiam certos grandes nomes da Sétima Arte na França, estava acusado pelo seu afilhado, de 19 anos à data dos acontecimentos, de o ter beijado à força e o agredir sexualmente durante uma estadia na Grécia em agosto de 2020.
Em tribunal, o jovem descreveu Boutonnat, com quem não tem parentesco, como “mais do que um padrinho”, vindo três a quatro vezes por semana à casa dos pais.
Segundo ele, durante uma estadia na casa de campo do seu padrinho, na Grécia, este tentou masturbá-lo depois de nadarem nus numa piscina. O jovem disse que a seguir o masturbou para que ele parasse de lhe tocar.
O presidente do CNC negou sempre qualquer agressão sexual. Admitiu ter tirado uma fotografia do jovem nu a sair da piscina, mas garantiu que o seu objetivo era focar a paisagem. Ele reconheceu beijos, mas segundo ele foram consentidos e iniciados pelo seu afilhado. E admitiu ter feito 'm****'.
Boutonnat foi indiciado por tentativa de violação, mas a acusação rejeitou esta caracterização e manteve apenas a agressão sexual.
Pedido de demissão
Apesar do seu indiciamento em fevereiro de 2021, Boutonnat foi reconduzido pelo executivo à presidência da principal instituição cinematográfica francesa em julho de 2022.
A organização CGT apelara à sua demissão e o movimento coletivo 50/50, que faz campanha pela igualdade, paridade e diversidade na indústria cinematográfica e audiovisual francesa, lamentou a sua recondução à liderança do CNC.
Por sua vez, a atriz Judith Godrèche, que se tornou nos últimos meses o principal símbolo do #MeToo na França, pedira a sua suspensão durante uma audiência no Senado francês e numa manifestação às portas do CNC.
Questionado pela France-Presse antes da condenação, o CNC respondeu que “os factos alegados, que são da esfera privada, não têm qualquer ligação” com a sua atividade.
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