Depois de “Ao Longe Já se Ouvia”, editado em 2017, as Sopa de Pedra revisitam dois trabalhos feitos com propósitos muito diferentes, mas que se juntam em lados opostos no novo “Do Claro ao Breu”, que chega, em formato vinil, na segunda-feira, com a chancela da Lovers&Lollypops.
O lado A surgiu da banda sonora que criaram, em 2013, para a curta de vídeo-dança “Meia de Leite”, do bailarino e coreógrafo Artur Campos.
Chama-se, agora, “Claro” e tem três partes: “Verão”, “Corpo” e “Fonte”, que partem de poemas de Eugénio de Andrade.
Já o lado B, dividido em “Trovão”, “Bichos”, “Queimada” e “Mar”, resulta da colaboração com o coletivo portuense de artistas plásticos Oficina Arara, em que musicaram textos sobre “os medos, os credos e as superstições populares”, nome “que o lado B teve durante muito tempo, até ter sido resumido em ‘Breu’”, adiantou à Lusa Sara Yasmine, uma das dez cantoras do grupo.
Passados quase dez anos desde que foram criados estes registos pela primeira vez, foram agora transpostos para um álbum porque “havia esse desejo de compor e de descobrir o que seria a música original de Sopa de Pedra”.
Foi por isso que agora se agarraram às “sementes” que lançaram naquela altura, ainda antes de terem explorado o reportório que deu origem ao primeiro disco.
Sara Yasmine considera que o primeiro trabalho é “o que mais caracteriza” o grupo, mas reconhece que sempre houve vontade de revisitar estas composições.
“Acho que não dita um desvio ao que vínhamos a fazer, porque continuaremos o desejo de seguir na pesquisa que vínhamos a fazer, ligada à polifonia de mulheres”, afirmou.
Yasmine considera que este disco "é mais um braço de Sopa de Pedra – Sopa de Pedra que trabalha com outros, Sopa de Pedra que tem o seu trabalho próprio, Sopa de Pedra que faz oficinas…”
Neste trabalho, destaca os “objetos e a percussão” que cumprem “uma função mais sonoplástica”, bem como a “manipulação musical, que foi importante para criar o ambiente em que as músicas se desenvolvem”.
Houve, também, “uma exploração plástica à volta da voz, que continua a ser o instrumento principal, mas que foi explorada de forma descomplexada”, conta.
As canções que deambulam “entre a luz e a escuridão, e entre o dia e a noite” foram “pensadas para serem ouvidas de fio a pavio e proporcionarem uma experiência completa”.
Para já, com uma agenda cheia de outros projetos, como o espetáculo “Voz”, que estão a preparar com o Teatro do Frio, e que se estreia em novembro, a apresentação ao vivo fica adiada, mas o disco pode ser ouvido, a partir de segunda-feira, nas plataformas digitais, e em “edição física, em vinil, num disco transparente, dentro de uma capa transparente, permeável a todas as paisagens que se puderem ver através dele”.
Os concertos vão “acontecer no próximo ano”, garantiu Sara Yasmine.
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