A nova criação da Rugas não propõe uma “recriação histórica do terror da tortura, das prisões, da cultura de denúncia e suspeição, da privação de liberdade e do medo”, mas antes uma “experiência sonora e visual de uma memória coletiva e individual de 48 anos de ditadura, vividos em Portugal de 1926 a 1974”, disse à agência Lusa fonte da associação.
“Se estas paredes falassem, se despertassem do sono do esquecimento e nos contassem a história dos corpos e das sombras, das vozes, dos gritos ou dos silêncios que testemunharam o que diziam”, muito teriam a contar, muitas evidências da violência emergiriam. "Paredes com ouvidos" permitem perceber essa realidade, equacionando memórias e vestígios desses factos no espetáculo, acrescentou.
Com antestreia no dia 17, a peça estará em cena até 20 de outubro e integra-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, com o apoio da Câmara Municipal de Sintra.
O texto da peça foi elaborado a partir de testemunhos reais, de pesquisa de arquivos e de entrevistas, e tenta “explorar e propor uma reflexão sobre o binómio ditadura-liberdade”.
A memória dos lugares, dos objetos, das imagens e dos sons de um tempo “não tão distante”, marcado por perseguições, repressão, censura, clandestinidade e torturas são recordados na peça, de modo a “não nos esquecermos desse período de medo constante e da opressão de uma moral estabelecida que arrastava o país para um definhar cinzento”, lê-se na apresentação da obra.
A sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, a antiga prisão e atual Forte de Caxias, a antiga cadeia do Aljube - que hoje alberga o museu que tem por lema Resistência e Liberdade -, e outros espaços de tortura constam dos elementos visuais e cenográficos da peça.
Com sessões às 21h00, nos dias 17 a 19 de outubro, e às 16h00, no dia 20, “Paredes com ouvidos” é uma criação, com dramaturgia e encenação de Patrícia Cairrão e Ricardo G. Santos.
A interpretar estão Artur Dinis e Liliana Costa.
A peça tem ainda vozes de Andreia Lourenço, Antónia Franco, Carlos Sousa, Carolina Figueiredo, João Ribeiro, Liliana Costa, Miguel Moisés, Olga Bernardo, Patrícia Cairrão, Paulo Campos dos Reis, Ricardo G. Santos, Ricardo Soares, Rute Lizardo, Sérgio Manuel e Sofia Correia.
O desenho de luz e a cenografia são de Patrícia Cairrão e Ricardo G. Santos e a criação e composição sonora de Hugo Costa.
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