A somar à estreia da peça, a nova tradução do texto do dramaturgo alemão (1777-1811) será também editada em livro, acrescentou à agência Lusa fonte do teatro.
A escritora, dramaturga e tradutora literária, sobretudo para teatro, que tem sido uma colaboradora assídua do encenador António Pires, já traduzira uma primeira versão do texto do autor alemão.
Na nova criação, em que António Pires traz para a atualidade o texto de Heinrich Von Kleist, o encenador volta a dirigir um elenco de atores com quem tem vindo a trabalhar nos últimos anos, com destaque para Rita Durão, que regressa ao Teatro do Bairro como protagonista do espetáculo.
A peça narra a história da guerreira e rainha das amazonas da mitologia grega, cujo nome dá título ao texto.
A peça baseia-se na chegada de Pentesileia à guerra de Troia ao comando do seu exército de amazonas para capturar homens que “servirão na reprodução de mais amazonas, na Festa das Rosas, um ritual religioso que marca a iniciação das virgens guerreiras como mulheres férteis e futuras mães”, segundo a sinopse da peça escrita por Luísa Costa Gomes.
“Quando Pentesileia se apaixona por Aquiles e ele por ela, começa a tragédia”, acrescenta a síntese da autora.
Quando da publicação de “Pentesileia”, em 1808, “rapidamente se espalhou a ideia de que a peça seria irrepresentável”, escreve ainda Luísa Costa Gomes, a propósito da obra.
“Goethe, avuncular, opinou muito benignamente que Kleist estaria à espera de um teatro por vir. Exércitos, combates, selvajaria explícita, toda a parafernália da imaginação arcaica e épica de Kleist se põe em cena nesta tragédia“, acrescenta.
“[...] A peça de Kleist, de facto, como todo o seu teatro, não tinha nada a ver com o estilo do palco de Weimar da época, com a sua linguagem e gesto estilizados, a abordagem equilibrada e digna que propunha um ideal de humanidade moderado e conciliatório, nos antípodas da caótica e canina visão do mundo da Pentesileia”, conclui a tradutora que tem trabalhado com António Pires, nomeadamente em textos da autora norte-americana Gertrude Stein, como é o caso de “Fazer um alfabeto de aniversários”, estreado no Teatro do Bairro, em novembro último.
Na história da Literatura, Heinrich von Kleist, poeta, romancista, dramaturgo, contista, jornalista, é indicado como um dos escritores mais importantes do Romantismo alemão, na viragem para o século XIX, com impacto na modernidade, em particular pela densidade das suas personagens e pelas situações limite de realismo e conflito a que as submete.
Autor de origem prussiana, com obra que se estende ao ensaio e à filosofia tem, entre os seus mais conhecidos títulos, textos como "Sobre o teatro de marionetas", a comédia "O jarro quebrado", a novela "A marquesa d'O..." e a peça "O príncipe de Homburgo", também traduzida para português por Luísa Costa Gomes.
"Michael Kohlhaas" é igualmente uma das obras mais associadas ao nome de Kleist, pela recorrente adaptação para teatro e cinema, incluindo uma versão 'western', dirigida por John Badham.
A interpretar “Pentesileia”, no Teatro do Bairro, além de Rita Durão, vão estar Alexandra Sargento, Carolina Serrão, Francisco Vistas, Graciano Dias, Iris Tuna, Jaime Baeta, João Barbosa, Tiago Negrão e Vera Moura.
Com cenário de Alexandre Oliveira, figurinos de Luísa Pacheco, desenho de luz de Rui Seabra, e desenho de som de Paulo Abelho, o espetáculo estará em cena até 5 de fevereiro, com sessões de quarta a sexta-feira, às 21h30, e, ao sábado e domingo, às 18h00.
No dia 29, a récita terá tradução em Língua Gestual Portuguesa.
Em 2012, uma 'versão laboratório comunitária' de "Pentesileia" - "Penthesilia, dança solitária para uma heroína apaixonada" -, sobre a tradução de Rafael Gomes Filipe (edição Porto Editora), foi estreada em Guimarães Capital Europeia da Cultura, apresentada no Teatro S. Luiz, em Lisboa, e no Festival Materiais Diversos, em Alcanena, que acolhera a sua produção.
Este texto de Kleist, a par de obras de Peter Handke, Shakespeare e Carlos J.Pessoa, foi também uma das referências da peça "Quadros de uma exposição", estreada em 2004, pelo Teatro da Garagem, em Lisboa.
A nova tradução de “Pentesileia” é dada à estampa pela produtora Ar de Filmes/Teatro do Bairro.
Comentários