Fundado em 2005, Original Bomber Crew é uma referência no estado de Piauí, no nordeste do Brasil, afirmando-se pelo seu trabalho de formação e criação em danças de rua, performances, batalhas, intervenções urbanas, festivais e oficinas.
O coletivo estreia-se em Portugal a convite do festival Dias Da Dança (DDD), apresentando, esta quinta-feira, no Coliseu do Porto, a primeira de duas performances que vão estrear em solo nacional.
A revelação foi feita num encontro informal com jornalistas, onde Allexandre Bomber, diretor, criador e intérprete do grupo classificou a dança como um ato de resistência.
No Brasil interior, onde nasceu o projeto e a trilogia de performances de que “tReta” é o segundo ato, a dança é também, nas suas múltiplas facetas, luta, manifesto e mudança. É nesse ato de manifestação – às vezes, o único possível em comunidades como as de que são originários – que se abrem novas possibilidades, além da sobrevivência.
“tReta” é esse espelho. É à volta desta palavra sinónimo de “encrenca” inesperada que o coletivo brasileiro apresenta a sua “dança quebrada”, uma prática, ligada aos movimentos artísticos de rua, que junta capoeira e ‘break’, numa produção que pretende representar a realidade crua e desigual do Brasil.
Nesta performance, os seis intérpretes - provenientes de diferentes linguagens artísticas, mas com a rua como universo comum -, propõem um jogo a dois. O público é convidado a participar, e é nessa interação que a dança se transforma, inspirada no que esse mesmo público traz.
“É um trabalho bem orgânico. Tem uma coreografia, uma estrutura, mas invade o espaço”, disse, desvendando que não vão estar em cima do palco físico do Coliseu.
Como um manifesto político que agitam a cada subida ao palco, o mais recente trabalho do coletivo fundado em 2005 faz parte de uma trilogia (“+ Suspeitø”, de 2020, e “Vapor”, de 2021), criada durante a presidência de Jair Bolsonaro.
“Passamos por um momento político no Brasil onde todos os suportes de editais [apoios] foram cortados e isso agravou ainda mais as dificuldades para quem mora no interior. Mas, ao mesmo tempo, fez-nos querer vir para o palco trabalhar. Esta peça surge nesse período político caótico que vivemos”, contou.
Em conversa com jornalistas, o coletivo de artistas lembrou ainda que o terceiro ato desta trilogia – “Vapor” - vai subir ao palco do Teatro do Campo Alegre, fechando este ciclo de performances.
Este trabalho, explica Allexandre, traz elementos de dança ritualista e das vivências no terreiro, num regresso às origens nordestinas. Para este espetáculo, o coletivo trabalha a ideia de excessos, de massas e na criação de uma instalação que construía a partir da dança.
O festival DDD prossegue até domingo.
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