O espetáculo intitula-se “VOZ.” e é uma criação de Daniel Cardoso, diretor artístico do Quórum Ballet, em resposta a um convite da câmara municipal da Amadora para se associar às comemorações dos 50 anos da revolução de 25 de Abril de 1974.
“Com este trabalho, sendo de dança, o ponto de partida não é retratarmos o que se passou na revolução, literalmente o que se passou, o que foi e o que é hoje. A ideia não é essa. O principal objetivo da peça é colocar as pessoas a questionar e a pensar onde estamos hoje em dia e o que é que podemos fazer para isto [a ditadura] não voltar a acontecer”, explicou Daniel Cardoso.
“VOZ.”, que conta com música de Rodrigo Leão, aborda de forma abrangente as ideias de liberdade e opressão, com o corpo de bailarinos a interpretar gestos de submissão, resistência e luta, num espaço cénico de Joana Vasconcelos, composto por dois muros de tijolos e muitos cravos vermelhos.
Este espetáculo, que também aborda os fenómenos de extremismos políticos no mundo, foi criado antes das eleições legislativas, mas estreia-se já depois de se saberem os resultados, com a subida considerável da extrema-direita.
“Acho que as pessoas querem algo diferente, querem uma mudança, mas a mudança que estão a querer está a ir para um lado mesmo muito perigoso. Não sou ligado politicamente a nenhum partido, sou um artista, sou coreógrafo, não tenho nem nunca quero ter cor político, mas penso que a nível humano, mais importante do que o que pensamos é conseguirmos que os políticos olhem para isto de outra forma, porque são eles que realmente têm o poder”, opinou Daniel Cardoso.
Para o coreógrafo, que já nasceu em democracia, em 1977, em Lisboa, o trabalho dos artistas “é fazer despertar as pessoas que vêm ver o espetáculo e poder repensar um bocadinho o que é que será o futuro”.
“VOZ.” estará em palco no Cineteatro D. João V, na Amadora, distrito de Lisboa, entre sexta-feira e domingo.
O Quorum Ballet é uma companhia de dança contemporânea fundada em 2005 pelo coreógrafo e bailarino seu Daniel Cardoso, tendo já criado mais de 60 produções, apresentadas em 18 países.
Este projeto cultural tem tido sobretudo financiamento da câmara municipal da Amadora, mas Daniel Cardoso diz que o Quorum Ballet tem conseguido ser “muito autossuficiente”, até como modo de sobrevivência, por não conseguir apoio nos concursos da Direção-Geral das Artes.
“Quem está a gerir os fundos para a Cultura não tem o nível de profissionalismo que nós temos, nem perto chegam. E não estou a falar de nós. Em geral, há coisas que acontecem a estruturas que é impensável que aconteça”, lamentou.
Para o futuro, Daniel Cardoso revela que o Quorum Ballet se prepara para ter um espaço próprio na Amadora, com projeto já aprovado e que deverá ser inaugurado em 2026, onde ficarão concentradas todas as valências que a companhia desenvolveu durante quase duas décadas.
“A ideia é construir um espaço de raiz para a companhia, academia e jovem companhia. Temos uma estrutura com três formatos diferentes: A companhia profissional que serviu de base para criar uma escola de dança e serviu de base para criar uma companhia jovem. Por isso é que conseguimos ser muito autossuficientes. (…) Será a nossa casa, o Quorum Studio”, anunciou.
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