Na conferência “O futuro dos media”, que decorreu esta terça-feira, dia 8 de outubro, em Lisboa, Luís Montenegro alegou que os jornalistas recebem as perguntas que devem fazer através do auricular. Na emissão da RTP3, Cristina Esteves reagiu às declarações e explicou a utilidade dos auriculares.

"Uma das coisas que mais me impressiona hoje, quero dizer-vos aqui olhos nos olhos, é estar com seis ou sete câmaras à minha frente e ter os jornalistas a fazerem-me perguntas sobre determinado acontecimento e ver que a maior parte deles tem um auricular no qual lhe estão a soprar a pergunta que devem fazer. E outros à minha frente pegam no telefone e fazem a pergunta que já estava previamente feita", disse o primeiro-ministro.

Durante a entrevista a Felisbela Lopes, coordenadora científica da Comissão do "Livro Branco" sobre o Serviço Público de Rádio e de Televisão, Cristina Esteves, da RTP3, explicou que recebe indicações através do auricular por parte da régie. "Muitas vezes para dizer 'vamos para intervalo' ou 'vamos terminar neste exato momento' ou 'uma reportagem não está pronta", exemplificou.

"Mas quando se está no exterior, este auricular é relevante para termos a ligação feita ao estúdio. Não é relevante para termos perguntas feitas ao ouvido", frisou a jornalista no "Jornal das 12".

O momento foi partilhado nas redes sociais e tornou-se viral.

Veja o vídeo:

O primeiro-ministro afirmou na terça-feira que pretende em Portugal um jornalismo livre, sem intromissão de poderes, sustentável do ponto de vista financeiro, mas mais tranquilo, menos ofegante, com garantias de qualidade e sem perguntas sopradas.

"Os senhores jornalistas não estão a valorizar a sua própria profissão, porque parece que está tudo teleguiado, está tudo predeterminado", defendeu.

“Na minha opinião isso não valoriza o jornalista, nem valoriza o jornalismo. Deixo-vos este relato, que é a minha opinião. Não pretende ser mais do que isso. É uma forma de vos dizer que as garantias do exercício livre do jornalismo têm a colaboração de todos, e este esquema, francamente, não é o que valoriza mais a função, porque para isso não é preciso ser jornalista”, advogou.

E Luís Montenegro rematou: “Para fazer a pergunta com o outro só para o ouvido, ou para ler a pergunta que está num SMS do telefone, sinceramente não é uma especial qualificação”.