Júlia Pinheiro é a única portuguesa que se pode gabar de já ter ganho dois Emmys. O primeiro enquanto diretora de programas da TVI com a novela «Meu Amor» (2010); o segundo como diretora de conteúdos da SIC com a novela «Laços de Sangue» (2011).
A Júlia é a única pessoa que já comemorou a conquista de dois Emmys...
É verdade, já papei dois! Para onde vou, o Emmy aparece... (risos). Agora a sério, este prémio é fantástico para a indústria do audiovisual. Prova a nossa maturidade enquanto profissionais, numa área em que temos sempre tendência para idolatrar os outros e celebrar indústrias mais maduras. A nossa está de excelente saúde e qualidade. Estamos muito contentes. Eu então ainda tive tempo de celebrar o primeiro da TVI e agora este da SIC. Mas sempre acreditei, ao contrário de toda esta gente (atores e produtores)...
Acreditou sempre, porquê?
Porque achei a novela «Laços de Sangue» um fenómeno. Arrancou tarde a ganhar audiências. Mas quando as pessoas aderiram, houve uma adesão muito forte. Depois, houve uma explosão final. Pelo meio, houve um momento difícil que foi quando decidimos prolongá-la. Foi uma decisão muito arriscada pois esta novela esteve no ar um ano. Houve aqui uma série de coisas que podiam ter corrido mal e correram bem. Portanto, com todas estas contingências, a novela, mesmo assim, teve uma excelente performance. As pessoas começaram a ligar-se a estes protagonistas com uma força que já não via há muito tempo. E eu venho de uma estação que era fortíssima em ficção (TVI).
A novela atual, «Rosa Fogo», ainda não conseguiu conquistar esse patamar elevado de audiências...
Vai ser, provavelmente, a mesma coisa. Há um padrão que tem a ver com as características dos espectadores da SIC. O cliente SIC é um bocadinho diferente do espetador da TVI, é mais disperso. O perfil do cliente médio é uma pessoa muito ativa do ponto de vista profissional, tem outras opções e só quando está muito ligado é que adere e fixa. Acho que «Rosa Fogo» vai ter exactamente o mesmo comportamento. «Laços de Sangue», no início, também não foi nada de extraordinário, e «Rosa Fogo» até está ligeiramente acima de «Laços de Sangue» no arranque. Agora começa a dar uns sinais interessantes, portanto, estamos muito animados.
O Emmy é também um incentivo para apostar na ficção nacional?
Completamente. E é, também, a confirmação de que as pessoas querem coisas portuguesas. Aliás, estou perfeitamente convencida que o nosso caminho enquanto indústria, a todos os níveis, é fazer produto nacional.
Falar português, mostrar coisas portuguesas, marcar e voltar a sublinhar aquilo que é a identidade portuguesa. Não uma identidade que seja só feita dos ícones ou das marcas culturais, como o Mosteiro dos Jerónimos ou a chouriça, que, de resto, aprecio. É mostrar o país como ele é, como vivemos e como somos actualmente como comunidade e sociedade. É esse o retrato que temos de conseguir cada vez mais.
Que mais projetos existem na SIC nesta área?
Muitos, mas todos sabemos que o ano que entra será muito difícil em matéria de captação de receitas para conseguirmos concretizar tudo aquilo que temos na cabeça. Mas a SIC será, cada vez mais, a estação intrinsecamente portuguesa. E, para o ano, comemoramos os nossos 20 anos, somos a primeira televisão privada em Portugal e tem que ser um ano especial.
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