A geração Z provavelmente só ouviu falar de Kenny G na canção do rapper brasileiro Matuê, cujo videoclip soma mais de 192 milhões de visualizações e que se tornou viral no TikTok. Mas o saxofonista é o artista instrumental mais bem-sucedido até hoje, segundo a HBO - o músico vendeu mais de 75 milhões de discos.
"Songbird", "Forever In Love", "The Moment" ou "Silver Bells" são alguns dos maiores sucessos da carreira do norte-americano e foram fenómenos virais, mesmo antes de nascerem as redes sociais - das rádios aos elevadores, as músicas do saxofonista tocavam nos quatro cantos do mundo e a todo o momento.
Paralelamente ao sucesso, o músico enfrentou duras críticas e ainda hoje é considerado um dos artistas mais odiados de todos os tempos - muito antes de existirem os 'haters' das redes sociais.
Depois de mais de 40 anos de carreira, o sucesso e as críticas são analisadas em "Listening To Kenny G". O documentário realizado por Penny Lane e com produção executiva de Bill Simmons estreia-se este sábado, dia 4 de dezembro, na HBO Portugal e lança um olhar humorístico, mas incisivo, sobre o saxofonista.
Em conversa com o SAPO Mag e vários jornalistas de todo o mundo, a realizadora, que não é fã da música do artista, confessa que as críticas mordazes ao trabalho de Kenny G foram o ponto de partida para o novo documentário da série "Music Box". "Quando acabei o meu último filme sobre Satanás ['Salve Satanás?'], que era um retrato simpático, pensei: 'O que é que as pessoas odeiam mais do que Satanás? Foi assim que cheguei ao Kenny g. Estou a brincar. Não foi assim que cheguei ao Kenny G. Mas estava interessada nas reações das pessoas ao Kenny G", conta a realizadora.
"No início, no filme que imaginava, ele nem precisava de participar. Mas depois conheci-o e ele é uma personagem interessante", revela. Já para Kenny G, foi fácil aceitar o desafio de contar um pouco sobre a sua vida e carreira a Penny Lane. "Não foi muito difícil para mim falar de tudo porque estava apenas a falar com a Penny. Na maioria das vezes, esquecia-me que estava a ser filmado e apenas respondia às perguntas", confessa o artista.
Para a realizadora, além de abordar a "onda de ódio" que o músico sentiu durante toda a carreira, era decisivo apresentar uma produção que conquistasse os fãs do saxofonista. "Para mim, era importante que o filme funcionasse para as pessoas que adoram o Kenny. Parti de um ponto diferente. Sei o que os meus amigos pensam sobre o Kenny G. Eles odeiam-no... odeiam, odeiam, odeiam, odeiam esta música. E achei isso um pouco engraçado. E pensei: 'Porque é que as pessoas ficam tão zangadas com esta música que acho que, na pior das hipóteses, é apenas inofensiva?'. Mas precisava de ter a certeza de que funcionaria também para pessoas que gostam da música. Portanto, isso fazia parte do desafio da montagem", acrescenta a realizadora.
No documentário, o artista não hesitou em falar das críticas. "Não levo isso a peito e não afeta a forma como penso na minha música. Porque se ouvisse todas essas pessoas, posso garantir-vos que não estaríamos a falar aqui hoje. Nunca teriam ouvido falar de mim", frisa.
"Não tento imitar outro estilo, acho que isso é a razão do meu sucesso. Sempre toquei à minha maneira, com o meu próprio estilo", acrescenta.
Na conversa, o saxofonista revela ainda que "não interferiu" no resultado final do documentário. "Não tive muito controlo, mesmo. Assinei isso no início. Sabia que a Penny, a realizadora, ia ter o controlo na montagem. Claro que pediram a minha opinião, mas provavelmente foi uma das 10 ou 12 opiniões diferentes que ouviram antes de tomar qualquer decisão", recorda.
"Ela queria mostrar a diferença entre a minha popularidade, as pessoas que gostam da minha música, e o grupo de pessoas que se chateia por ser bem-sucedido. A ideia do filme é mostrar que existe um grupo de pessoas que talvez tenha um sentimento protetor em relação ao jazz tradicional e que pensam o que o jazz deve ser", explica Kenny G.
Tal como o músico, a realizadora sublinha ainda que as gravações "foram uma animação", especialmente devido ao sentido de humor do artista. "O maior desafio foi a montagem. O processo de o fazer foi divertido. O Kenny é fantástico. (...) Foi sempre uma animação e isso normalmente não acontece. Normalmente, a produção é dura e não é uma coisa divertida", confessa Penny Lane.
Apesar da fama mundial, Kenny G nunca sentiu a pressão de ser conhecido, até pelo contrário. "Nos últimos 40 anos, sempre fui conhecido. A maioria das pessoas que gostam da minha música e que conhecem a minha música, não sabem muito sobre mim. Isso tem sido ótimo porque posso ir ao supermercado, passear pela rua, ir lavar a roupa e fazer coisas normais sem chamar a atenção das pessoas. Acho que este filme não vai mudar isso", defende.
"Se tenho sorte? Claro que sim. Mas há alturas em que talvez gostasse que fosse diferente... digamos que quando entro num restaurante e não há mesa e não consigo arranjar mesa por muito que lhes diga quem sou. Já alguém como Beyoncé... bem, ela pode ter 20 mesas sempre que quiser. Portanto, há um pequeno inconveniente, mas não é muito importante", brinca o saxofonista.
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