"The Walking Dead" é um fenómeno global baseado na banda desenhada criada por Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard. A série de televisão entra na sexta temporada com um número recorde de personagens (no arranque, são dezoito personagens regulares) e com novos desafios de um grupo de sobreviventes perante um mundo pós-apocalíptico dominado por zombies e humanos impiedosos.
Os argumentistas querem quebrar um ciclo e o arranque da sexta temporada deixa-nos sedentos por mais episódios.
A primeira metade da quinta temporada foi claramente claustrofóbica com a narrativa da igreja e do resgate de Beth (Emily Kinney) num hospital de Atlanta, eventos que foram intercalados com episódios dedicados a alguns dos sobreviventes do grupo e que culminam num oitavo capítulo que foi um valente soco no estômago.
A segunda metade da quinta temporada, com a chegada à comunidade de Alexandria, marcou por breves momentos um abrandamento dos acontecimentos com episódios mais existenciais, leia-se dramáticos, e menos frenéticos em termos de “ação”. A quinta temporada terminou numa encruzilhada e com uma série de questões que ficaram no ar.
O grupo de sobreviventes liderados por Rick Grimes (Andrew Lincoln) saiu da estrada e encontrou residência na comunidade de Alexandria, um lugar seguro e idealista na Virginia, dirigido por Deanna (Tovah Feldshuh), uma ex-congressita americana que coloca o diálogo antes da violência e da força de armas.
As opiniões dividem-se sobre o lugar e criam-se ruturas no seio da comunidade quando Rick tenta convencê-la de que a passividade não é uma opção. Rick está cada vez mais determinado e possessivo e os factos dão-lhe alguma razão.
Também vemos uma nova dimensão do protagonista da série que, após a morte da esposa, nunca mais demonstrou sentimentos de paixão por outra mulher. No caso, Jessie (Alexandra Breckenridge), uma residente da comunidade Alexandria que é vítima de abuso pelo marido que vê Rick a “resolver-lhe” o assunto na última cena da quinta temporada.
A sexta temporada está em plena ebulição com vários pontos explosivos de ameaças e conflitos, a começar pela chegada de Morgan Jones (Lennie James), um velho amigo que foi o primeiro sobrevivente que Rick encontrou após acordar do seu coma e que o apresentou às regras do mundo pós-apocalíptico, na primeira temporada da série.
Morgan está mais calmo e racional (teve uma aparição perturbadora no episódio 12 da terceira temporada) após ter perdido o seu filho e assume-se ser uma contra-medida à atual posição de domínio de Rick.
Uma nova ameaça também ganha dimensão para lá dos muros fortificados de Alexandria. Os Wolves, um grupo rival de sobreviventes sem réstia de humanidade que devora e consome tudo à sua passagem.
Este novo perigo traz à memória reminiscências do Governador e de Terminus. Os zombies também chegam em força às portas de Alexandria. Segundo os produtores da série, na sexta temporada temos 800 zombies caracterizados, num monumental trabalho da equipa de efeitos especiais e de maquilhagem de Greg Nicotero.
O responsável pela caracterização da série também realizou o episódio de abertura, contado a dois tempos. O preto e branco representa o flashback com o rescaldo dos acontecimentos da fatídica reunião da comunidade de Alexandria ocorrida no final da quinta-temporada, e é também uma homenagem ao comic. Estas cenas são intercaladas pelas cores vivas que nos trazem o maior número de mortos-vivos em cena na série, numa espécie de “World War Z”, com os zombies a caminho da comunidade de Alexandria.
Na sexta temporada a quantidade e a qualidade de personagens permite aos argumentistas a exploração de inúmeras sub-tramas. São cerca de doze que irão lidar com a dor da perda, o ódio e o amor, a esperança e o desejo de proteger e sobreviver perante aqueles que amam e têm ao seu cuidado. E continuarão a ser desenvolvidos múltiplos trajetos pessoais de sobreviventes que viram tudo o que havia para ver no mundo pós-apocalíptico. São eles, afinal, que dão razão à série com os seus arcos narrativos e a família vai-se tornando mais extensa e consequentemente mais complicada.
O segredo do sucesso da série continua a residir no comic original. O futuro dos acontecimentos e dos personagens será sempre imprevisível na série de televisão mas, após o brilhante episódio de estreia da sexta temporada, vale a pena acompanhar o ritmo alucinante de "The Walking Dead".
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