Há 47 metros entre a superfície e a jaula no fundo do oceano onde duas irmãs ficaram presas por acidente, rodeadas por tubarões famintos.
O predador volta a ser o vilão dos filmes, um papel que lhe coube várias vezes desde 1975, quando estreou nos cinemas o clássico de Steven Spielberg "Tubarão".
Mais de 50 filmes sobre tubarões já passaram pelas salas, mas "47 Meters Down", que estreia esta semana nos EUA, decorre quase totalmente debaixo de água.
E como em todos os enredos, o público torce para que as irmãs Lisa e Kate (Mandy Moore e Claire Holt) não entrem no barco em ruínas de Taylor (Matthew Modine), e muito menos numa jaula oxidada para mergulhar no mar do México e ver tubarões, cuja atenção atraem lançando sangue na água.
A jaula separa-se do barco e cai no fundo do mar. É assim que as duas irmãs, com pouca experiência em mergulho, terminam a 47 metros de profundidade, com botijas de oxigénio suficientes para apenas uma hora e rodeadas por tubarões.
"Acho mais assustadora a premissa de se afogar, de ficar sem ar, é uma corrida contra o tempo. Esse é o meu maior medo, muito mais que os tubarões, que por si só já são bastante assustadores", disse Moore num encontro com os jornalistas.
"Fisicamente desgastante"
O realizador Johannes Roberts decidiu que uma vez que as raparigas caíam na água, não havia necessidade de ter uma câmara à superfície.
"Não tinha interesse em fazer cenas com reações de Taylor ou dos outros no barco. Imagine-se se 'Gravidade' cortasse para o posto de controlo em terra, teria matado o filme", explicou.
Esta visão levou Mandy Moore e Claire Holt a passarem oito horas por dia, ao longo de oito semanas, dentro de um tanque, a seis metros de profundidade.
O filme, que inicialmente ia ser distribuído apenas em vídeo, foi feito principalmente no Reino Unido, longe da paradisíaca costa mexicana que ilustra a história, e outra parte gravada na República Dominicana.
"Não tínhamos ideia de como seria fisicamente desgastante", destacou Moore, que considerou que ela e Holt foram cobaias: "Ninguém sabia o efeito que teria passar oito semanas filmando debaixo d'água".
Uma máscara de mergulho com um visor especialmente grande foi projetada para que os espectadores pudessem ver melhor as expressões de Moore e Holt.
As atrizes podiam comunicar através de um rádio, mas a comunicação com o resto da equipa de filmagem era feita através de sinais, enquanto as instruções do realizador chegavam por um altifalante dentro do tanque de água.
Antes de começar a rodagem, as atrizes fizeram um curso básico de mergulho.
Numa cena, Holt tirou o equipamento e voltou a colocá-lo em profundidade. "Estava bastante nervosa, mas havia pessoas a tomar conta de nós", disse a atriz australiana.
Uma em quatro milhões
Em 2016 foram registados no mundo 81 ataques de tubarões "não provocados", segundo o Arquivo Internacional de Ataques de Tubarões (AIAT), que a Universidade da Flórida administra desde 1987. Nenhum deles ocorreu no México.
Para Matthew Modine, que mergulha desde a adolescência, este é um "filme sobre erros humanos".
"É um filme de terror sem o aspeto sobrenatural, é algo que pode acontecer", disse à agência AFP.
O ator observou, no entanto, que as probabilidades de ser atacado por um tubarão são quase nulas.
"Temos mais chances de ser atingidos por um raio ou devorados por um hipopótamo", afirmou, lamentando a morte de 100 milhões de tubarões por ano às mãos de humanos.
O Museu Internacional da Vida Silvestre de Tucson, no sudoeste dos EUA, calcula que a probabilidade de sofrer um ataque de tubarão é uma em quase quatro milhões.
Mas este animal tem tudo para ser o vilão perfeito, e 42 anos depois de "Tubarão", os filmes que incluem este predador mantêm os espectadores aflitos nas suas poltronas.
É o medo do desconhecido, da escuridão do oceano e do imprevisível.
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