Nos últimos anos Al Pacino não tem feito sempre as melhores opções em matéria de cinema.

É preciso recuarmos mais de uma década para encontramos papéis verdadeiramente marcantes em «O Mercador de Veneza» ou «Insónia». No seu percurso mais recente, o ator destacou-se no envolvimento que teve em «Salomé» e na realização de um documentário sobre a adaptação da peça escrita por Oscar Wilde.

É claramente alguém que parece estar aquém das suas possibilidades em cinema, ou refém das personagens notáveis que já fez. Assim, não é nada estranho que ele tenha tomado a decisão de assumir o papel principal de «A Humilhação», sendo dirigido pelo amigo Barry Levinson, num filme que adapta uma novela de Philip Roth.

É território familiar com referências confortáveis e incontornáveis para Al Pacino, que se expõe ao interpretar um ator de teatro que desiste de representar porque é incapaz de decorar o texto. É uma personagem de risco e que parece dizer muito sobre o que ator sente aos 75 anos.

Incapaz de representar, Simon Axler (Pacino) sujeita-se a um período de repouso para recuperar de uma depressão, e reencontra-se com Peegen (Greta Gerwig), uma jovem lésbica que na sua fase adolescente desenvolveu uma grande paixão pelo ator. Os dois iniciam um relacionamento mais íntimo e caótico, que se torna num motivo de discórdia para os familiares da rapariga, incapazes de aceitar bem a diferença de idade do casal.

As cenas mais impressivas do filme representam os breves e marcantes momentos de confusão mental de Simon, que nos colocam numa posição em que temos que diferenciar o real do imaginário e do delírio.

As atuações dos elementos do elenco comprovam que este é um filme feito para Al Pacino onde as personagens secundárias servem para adensar a desorientação psicológica de Simon Axler. É nessa desordem mental e emocional, nesse estado de enorme fragilidade, que podemos reconhecer o próprio Al Pacino. Como se o filme fosse um espelho do ator. O resultado é excessivo, porque Al Pacino parece estar num permanente exercício de citação das suas qualidades, demonstrando de forma muito evidentes que ainda está na posse dos seus atributos, num «over acting» constante para ser... Al Pacino.

Parece que o ator encontrou aqui uma forma de demonstrar que é capaz de fazer um bom papel, e considerando os seus desempenhos mais recentes, este é, de facto, um bom papel. Al Pacino por Al Pacino é sempre ótimo. Mas se não o temos visto em papéis memoráveis, a culpa não é da sua competência para representar bem. É dos argumentistas ou dos papéis que escolheu mal nos últimos anos.

3 em 5

REVISTA METROPOLIS