Revelado na programação do Curtas de Vila do Conde, "Verão Saturno", de Mónica Lima, tem apenas 30 minutos.
Quem não o conseguiu ver durante a Mostra de Cinema Ibero-americano, que decorre no cinema São Jorge, em Lisboa, até dia 16, terá nova hipótese: há uma sessão na Cinemateca Portuguesa, dia 21. Aí será exibido com mais três obras na programação "O Dia mais Curto".
Esta obra de ritmo fluído e sem as presunções frequentes de um certo cinema de nicho lusitano tem apenas um defeito: quando o espectador, envolvido pelas múltiplas linhas abertas pelo argumento, ainda está imaginar os desenlaces possíveis, ele é subitamente lembrado que se trata de uma curta-metragem.
O SAPO Mag conversou com a realizadora no cinema São Jorge, que disse estar a trabalhar numa longa-metragem. De resto, entrevista e filme tratam de um tema pertinente, na qual Mónica Lima revê-se, sobre a situação daqueles que não deixam de perseguir os seus sonhos.
Promessas não cumpridas
O enredo de "Verão Saturno" conta a história de Samuel (Jaime Freitas). Ele vive na Alemanha com a namorada (Joana de Verona) e vem a Lisboa para um concerto. Fica na casa da mãe dela (Rita Loureiro). Há uma tensão sexual e aquilo que é o foco do filme: o duro de processo de continuar a sonhar com a arte contra todos as questões de ordem prática.
"O filme aborda sobretudo a crise dos eternos jovens, entre os 30 e 35 anos, de pessoas que têm desejos que não conseguem cumprir, promessas eternas por viver”, observa a realizadora. “E, quando se é artista, mais complicado é. O protagonista que vive nesta ambivalência”.
Quanto a este, ele é um músico independente [as canções originais são do guitarrista Filipe Felizardo], a sua namorada é estudante e já mudou de curso várias vezes. Não se trata de exigência a mais desta geração?
“O problema é que nos foi prometido muito mais que isso", recorda. "Disseram que se estudássemos tudo ia correr bem, que íamos atingir o máximo do potencial e acreditámos nisto. Portanto é mais do que válido continuar a alimentar essa expectativa. Depois descobrimos que não é assim, não há de facto uma repercussão pragmática que nos permita pagar as contas.”
Os artistas perdidos na sociedade contemporânea
Hoje, com o turbilhão de meios e vozes, como um novato pode ser reconhecido?
“Todo o criador acredita que o que faz é bom e que vai fazer a diferença. Esse é a loucura e é impossível dizer-lhe que é melhor não fazer arte porque não vai conseguir sustentar-se. Essa mensagem nunca vai ter significado. Eu sou romântica a esse nível, acho que a vontade de produzir vai ser sempre maior”, defende.
No entanto, Mónica Lima também reconhece: “Os artistas não vão deixar de existir, mas eles também são uma figura que anda meio perdida na sociedade contemporânea. Gosto desta personagem porque deambula por este mundo sem encontrar realmente um equilibro entre sonhos e expectativas e estas necessidades pragmáticas de sustento”.
O novo projeto da realizadora tem o título provisório de “O Último Dia de Todos os Dias” e já teve o argumento premiado pelo ICA. A escrita vai decorrer durante 2018.
Sobre aquela que possivelmente será a sua primeira longa-metragem, relata: “É uma comédia negra sobre fantasmas, famílias e uma casa à espera de uma mulher que, depois de vários anos ausente do país, é suposto regressar. Mas ela nunca mais aparece. O filme acontece no tempo de espera desta personagem, com alguns elementos de uma comédia de costumes”.
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