
Como escolhem os cardeais católicos um novo papa? O que acontece nas suas reuniões à porta fechada?
Esta era a premissa de “Conclave”, um filme protagonizado por Ralph Fiennes, John Lithgow e Stanley Tucci, com Isabella Rossellini numa breve, mas intensa participação, que mostrou em registo de 'thriller' os bastidores de um dos acontecimentos mais sigilosos e antigos do mundo.
"Anora" foi o grande vencedor dos Óscares, mas durante algumas semanas em fevereiro o seu triunfo esteve em dúvida, quando "Conclave" conquistou grande visibilidade com o triunfo nos prémios BAFTA (os "Óscares britânicos") e o prémio de Melhor Elenco nos SAG Awards, reforçada pela sua atualidade num momento já delicado na vida real: o Papa Francisco estava internado há várias dias e em situação crítica por causa de problemas respiratórios.
O filme volta à atualidade esta segunda-feira, que desencadeou o processo: o conclave começará nunca antes de 15 dias e não depois de 20 da sua morte e dos atuais 252 cardeais, 135 são elegíveis para o trono de São Pedro e os restantes, com mais de 80 anos, podem juntar-se ao debate de quem deve ser o eleito.

O tema e o elenco foram determinantes para o fascínio que rodeou "Conclave" durante as apresentações nos festivais de Telluride, San Sebastian e Toronto entre o final de agosto e setembro do ano passado, antes de conquistar as salas de cinema, incluindo as portugueses, onde passou os 77 mil espectadores desde a estreia a 7 de novembro.
Seguiu-se uma das presenças mais intensas na recente temporada de prémios que culminou na maior noite de Hollywood a 2 de março: entre oito nomeações, incluindo as de Melhor Filme, Ator (Fiennes) e Atriz Secundária (Rossellini), ficou uma estatueta dourada para Melhor Argumento Adaptado, a partir do romance de Robert Harris.
Realizado por Edward Berger, cuja versão alemã de "A Oeste Nada de Novo" ganhou quatro Óscares em 2022, o relato ficcional das negociações de alto risco na Santa Sé imaginava como a morte de um papa enviava as várias facções da Igreja para a batalha pelo seu futuro.
Fiennes interpretava o cardeal Lawrence, encarregado de organizar a assembleia ultrassecreta de cardeais, enquanto Tucci e Lithgow eram dois dos homens que disputavam a ascensão ao trono papal.

“Nenhum homem sensato iria querer o papado”, dizia o Cardeal Bellini (Tucci), um liberal que, no entanto, queria o cargo, na esperança de frustrar os conservadores que acreditava que levariam a Igreja a um retrocesso social.
Como o filme mostrava, é preciso uma maioria de dois terços mais um para eleger um novo Papa, pelo que podem ser necessárias várias rondas por voto secreto na Capela Sistina e o processo pode demorar dias, com os cardeais confinados ao Vaticano.
Reviravoltas abundavam enquanto os homens mais santos revelavam os seus pecados e delitos. A banda sonora pulsante do compositor vencedor do Óscar Volker Bertelmann ("A Oeste Nada de Novo") impulsionava o ritmo tenso, conduzindo o "thriller" para um desfecho inesperado.
“Este filme não é realmente sobre religião. Para mim, é muito mais sobre os jogos de poder nos bastidores e a competição por um cargo importante, que pode acontecer no seu jornal ou numa filmagem, ou numa empresa, na política ou na religião”, explicava Berger na conferência de imprensa após a exibição em San Sebastian.
REVEJA O TRAILER "CONCLAVE".
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