
O filme "O Palácio de Cidadãos", de Rui Pires, retrata uma Assembleia da República diferente daquela que existe hoje, mas onde se discutiam muitos dos problemas atuais, e que dirigentes partidários que assistiram à antestreia recordaram com nostalgia.
Entre 2018 e 2019, o realizador Rui Pires filmou o parlamento português, numa altura em que Eduardo Ferro Rodrigues era presidente da Assembleia da República (AR) e António Costa liderava o Governo, suportado por uma maioria parlamentar de esquerda.
O resultado é um documentário com cerca de duas horas que mostra os bastidores do parlamento, entre audições, reuniões e debates, ou a preparação de visitas oficiais, os arquivos dos diplomas legislativos e a presença dos cidadãos na casa da democracia.
Na antestreia do filme, que decorreu na quarta-feira no Cinema Ideal em Lisboa, dirigentes partidários recordaram com nostalgia uma AR que dizem estar hoje diferente, mas que continua a prestar um serviço essencial à democracia.

“O filme fala-nos de um tempo em que o sentimento dominante pelo parlamento e pelo seu trabalho é de um certo afeto, de um interesse das pessoas por uma casa que é de nós todos”, descreveu Rui Tavares, porta-voz do Livre.
Na altura, o Livre ainda não estava representado na AR, mas Rui Tavares diz sentar-se num hemiciclo “muitíssimo diferente, tomado por uma bancada de 50 deputados (do partido Chega) que não se reveem no Portugal que saiu do 25 de Abril e que tentam perverter esse legado”, lamentou.
Apesar de diferente, muitos dos temas que acendiam os debates continuam atuais. Na altura, discutiam-se direitos laborais, problemas na saúde e a Lei de Bases da Habitação, aprovada em 2019.
Ao contrário de Rui Tavares, Catarina Martins já não é deputada, mas esteve na AR naquela altura, quando era coordenadora do BE, e destacou o papel dos cidadãos, retratados no filme em muitos dos momentos de discussão sobre aqueles temas.
Nem todos tiveram a resposta que a agora eurodeputada considera que mereciam, mas Catarina Martins admitiu que o documentário a reconfortou: “Quando alguém vos disser que a democracia é um jogo de aritméticas institucionais, ou é um jogo de conversas de gabinete, por favor não acreditem, olhem para este filme. As coisas que se conseguiram foram as pessoas que ali estavam, que apareceram, que falaram e não pararam”.
Também Paula Santos, do PCP, sublinhou o envolvimento da sociedade civil e dos cidadãos nos vários passos do processo legislativo e do trabalho parlamentar, um envolvimento que nem sempre é visível, mas que diz ter sido bem retratado no documentário.
Angélique Da Teresa, da IL, destacou as imagens de uma manifestação contra as alterações climáticas que juntou milhares de jovens em frente à AR, muitos com cartazes em que pediam “menos conversa e mais ação”.
“Acho que a visão das pessoas que estão fora do parlamento é muito essa. Esperemos que as coisas melhorem, até para que as pessoas não se distanciem da política”, afirmou.
Já Carlos Reis, do PSD, lembrou também o trabalho muitas vezes oculto, mas a que Rui Pires dá visibilidade no filme, de auxiliares de limpeza, administrativos, seguranças e outros funcionários.
“Um papel invisível, mas fundamental para que aquela casa funcione”, elogiou o social-democrata.
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