Ora cantava Devendra, ora cantava Andy - durante a hora e meia de concerto foi sempre assim, primeiro para um público tímido, que se foi soltando à medida que Banhart, o mais conversador dos dois, pedia fervorosamente que a plateia se desfizesse das suas inibições.

A meio do espetáculo, já tudo estava em família, havendo até uma pequena sessão de discos pedidos, à qual os músicos tentaram responder com o maior cuidado possível. Quando a memória atraiçoava Devendra, valia-lhe o improviso.

A personagem de palco de Banhart é, de facto, uma das mais marcantes de sempre da cena folk americana: o fascínio quase infantil com as sombras que a sua figura projetava nas paredes do auditório envolveu completamente o público, que se deixou apaixonar pela inocência e espontaneidade dos seus movimentos. As suas palavras, por várias vezes num admirável português - ou “portunhol”, segundo lamento do próprio - expiravam sinceridade e agradecimento, partilhado numa timidez simpática por Andy Cabic.

Não obstante a afabilidade do duo, a nota que mais soou no auditório foi a da cumplicidade quase exclusiva entre os cantores - por vezes, a sensação que ficava era que cada um dos membros do público os tinha ido escutar à sala de estar de uma casa que eles partilham.
Sempre em registo intimista, percorreram-se alguns dos temas mais marcantes da carreira de Banhart e Cabic, ficando a faltar um dos favoritos do público português: o “Santa Maria da Feira”. Aí, o improviso não bastou aos músicos na altura de fazer a vontade à plateia. Contudo, nem isso pôde desfazer a magia do momento que ali se viveu.

Texto: Catarina Soares

Fotografias: Nuno Gabriel Moreira