Fernando Daniel nasceu e cresceu em Estarreja, também no distrito de Aveiro, mas é no concelho vizinho que vive atualmente, mais precisamente na praia do Furadouro. Foi aí que decidiu pôr em prática duas vontades: ter os estúdios perto de casa e abrir uma escola de música.
“Havia uma oportunidade de me estabelecer e ter um espaço para poder trabalhar as minhas coisas e não estar dependente de outros. A partir do momento em que monetariamente isso foi possível, tentei primeiro procurar apoio junto das câmaras municipais locais, mas sem sucesso. Infelizmente, a cultura ainda não é vista como algo importante. Prometeram, prometeram e nada”, contou, em entrevista à Lusa, em Oeiras, onde esteve a promover o novo álbum, “V.H.S Vol.1”, que é editado na sexta-feira.
Sozinho, acabou por encontrar um espaço, as antigas instalações da discoteca Pildrinha, “que, curiosamente, estava à venda”.
“E de repente, começo a perceber que estava ao meu alcance, e começo a trabalhar com algumas marcas parceiras, que também se interessaram neste projeto”, disse.
Uma parte do edifício irá acolher os estúdios. “Vou ter um museu com os meus galardões, os meus prémios, e os mais que eu quero ganhar. Vou ter uma cozinha, um tipo de alojamento que não é aberto ao público, só para as pessoas que poderão ensaiar e usufruir do espaço. Um ginásio também”, elencou.
Naquela zona haverá três régies: duas de música – a do próprio músico e uma de apoio, “que será também para alugar” - e uma de vídeo, “para fazer videoclipes”.
A sala de ensaios, com cerca de 100 metros quadrados, servirá também “para fazer ‘workshops’ e sessões fotográficas”.
“Quero ter ali o maior número de serviços possíveis. A minha ideia é não ficar dependente de ninguém”, disse.
A outra parte do edifício irá acolher um espaço que é, para Fernando Daniel, “o mais especial”: “a escola de música, essa sim aberta ao público”.
O músico confessou que já queria, “antes de ter os estúdios, ter uma escola”.
“A minha ideia aqui é, consoante as dificuldades das crianças e das famílias em apoiar os sonhos delas, ajustar os preços das aulas. Ou seja, há aulas que poderão ser de graça”, explicou o cantor, para quem “não se deve perder um possível grande músico, um possível grande artista por não haver dinheiro em casa”. “E se eu puder ajudar, ajudo”, sublinhou.
Os músicos que habitualmente o acompanham “vão ser os professores”.
Entre as crianças que frequentarem a escola haverá as que “não pagam”, as que “irão pagar metade” e as que “pagarão a totalidade” do valor das aulas.
Na altura em que percebeu que a música era o caminho que queria seguir, os pais e Fernando Daniel não tinham a possibilidade de lhe pagar aulas, “porque as aulas de música são efetivamente caras”.
Autodidata, acredita que acabou por conseguir singrar por ser “muito persistente”.
O público começou a conhecê-lo através da televisão, em concursos de talentos, mas antes disso já cantava em bares e festas.
Em 2016, venceu o The Voice Portugal. Dois anos depois editou o álbum de estreia, “Salto”, que apresentou numa digressão com mais de 150 concertos.
Em 2019 e em 2020 foi distinguido com o prémio Best Portuguese Act dos prémios de música da MTV Europa. Em 2020, editou o segundo álbum, “Presente”.
Aos 27 anos, tem vários temas com milhões de visualizações no Youtube, plataforma onde a sua página oficial conta com quase meio milhão de seguidores.
“Eu consegui com esta minha persistência, mas o João se calhar não é persistente. Tem um grande talento, mas não tem culpa de não ter nascido persistente, ou não faz parte do feitio, mas não se pode perder um grande músico, um grande artista, porque os pais não têm possibilidades, ou seja, é tentar aqui ajustar um bocadinho este ecossistema”, disse.
Fernando Daniel conta conseguir ter os estúdios e a escola a funcionar no outono deste ano, de modo a apanhar o início do próximo ano letivo.
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