As pessoas foram entrando ordeiramente. Os Naturally 7, convidados a abrir o concerto, subiam ao palco às oito horas. Faltavam apenas seis minutos, mas há sempre tempo para esperar na fila junto a um Michael Bublé cartonado e sorridente. O público é maioritariamente feminino: casais, grupos de senhoras, meninas desacompanhadas... As luzes apagam-se, o Pavilhão ainda não está a metade e até custa a crer que foi necessário marcar um segundo espectáculo. Uma voz avisa os mais descrentes: este som é criado por voz humana.

Naturally 7, aorquestra vocal

Sete homens apresentam-se iluminados por luzes rosas, azuis e amarelas. Em palco só se vêem microfones e um banco. Nada mais é necessário. Utilizando apenas a voz conseguem reunir uma banda completa: uma guitarra, um baixo, uma bateria, um dj, um trombone e uma harmónica. Além das suas extraordinárias capacidades «instrumentais», juntos, a uma só voz, elevam o gospel a outro nível. Antes de se despedirem, colocam o público a saltar ao som de Motown e aí, quando as luzes brancas alumiam a audiência, apresenta-se-lhes um Pavilhão Atlântico a rebentar pelas costuras. No fim, num português atabalhoado, mas esforçado, os Naturally 7 cedem lugar ao artista principal com um «Lisboa é fixe».

Mr. Michael Bublé

Uma apresentação solene para um canadiano descontraído. Michael abre a cantar «Cry me a River» e só depois dá as boas-vindas ao público. Pede um momento, faz uma flexão e beija o palco: é a primeira vez que actua em Portugal. Depois, brinca: «Sinto-me como se fosse o Papa» - figura que imita na perfeição, usando o microfone para atirar água benta. O cantor coloca as cartas na mesa: não é um concerto, é uma festa «porque para ouvir a minha música basta pôr oCD em casa». É neste espírito que desafia as pessoas a cantarem consigo, ou, para os mais afoitos, a darem um pezinho de dança. Entre brincadeiras, piadas e pequenas provocações, Bublé conta que está noivo de uma senhorita argentina - revelação que atrai tanto aplausos como suspiros.

O disco «Crazy Love» foi lançado em 2009 e desde então o cantor tem percorrido o mundo a mostrar o seu trabalho. Os dois concertos em Lisboa terminam a tournée europeia do artista. Em palco Michael é acompanhado por uma banda, a quem dá o merecido destaque durante toda a actuação, e o cenário é completado por um jogo de luzes que ajuda a criar um ambiente único, animado, exultante.

O que os fãs não contavam é que Bublé saltasse do palco e viesse, por seu pé, para o meio da sala cantar em cima de um pequeno estrado. O cantor esteve, literalmente, ao alcance da mão e mostrou para com todos um grande carinho e disponibilidade. As pessoas saíram dos seus lugares, chegaram mais perto, dançaram e cantaram a pedido do artista. «Home» e «Haven’t Met You Yet» foram dois dos momentos altos da noite.

O Pavilhão estava em êxtase quando Michael se despediu. Os aplausos, a par dos pés a baterem nas bancadas, foram insistentes o suficiente para que este voltasse numa chuva de papelotes brilhantes e cantasse “Me and Mrs Jones”.

No fim, pediu silêncio e cantou sem microfone. Num país de fado onde o silêncio é rei, Bublé fez-se ouvir em todos os cantos do recinto. Surpreendido também ele pelo público português, agradeceu várias vezes a recepção e prometeu voltar quando tiver um novo trabalho. Hoje à noite, Bublé torna a subir ao palco para actuar numa sala com lotação esgotada.

@Inês Fernandes Alves