Harvey Weinstein ficará em liberdade depois de pagar uma fiança de um milhão de dólares, entregar o passaporte e aceitar usar pulseira eletrónica com GPS.
Esta sexta-feira, o produtor de cinema foi indiciado por um tribunal de Nova Iorque por violação e agressão sexual depois de se entregar às autoridades pelas 07:00 (hora local), sem prestar qualquer declaração à chegada, como tinha sido antecipado pela imprensa.
O anúncio do processo, após meses de investigação da procuradoria de Manhattan, acusada de demorar muito tempo, foi recebido favoravelmente por várias figuras do movimento #MeToo.
A atriz italiana Asia Argento, que acusa o produtor de a ter violado no Festival de Cannes há 20 anos, partilhou o vídeo da chegada, "perguntando" ao produtor o que o levou a demorar tanto tempo.
Rose McGowan, outra atriz que se destacou nas denúncias, descreveu a sua manhã como "surreal" no programa "Today".
"Vê-lo sair algemado, quer tenha sorrido ou não... foi uma sensação muito boa", acrescentando que nunca esperou ver o dia chegar.
Apesar disso, destacou que Weinstein se entregou numa sexta-feira, perto do fim de semana, quando há menos atualização noticiosa: "Portanto ele ainda tem algures alguns privilégios que vêm de cima".
"É supercatártico para muitas vítimas", afirmou Tarana Burke, fundadora do #MeToo.
"Talvez estejamos a assistir a uma mudança na forma de tratar os casos de violência sexual", completou.
O dia chegou
Num breve comunicado, a polícia informou que Harvey Weinstein foi "detido, processado e indiciado por violação, ato sexual criminoso, abuso sexual e agressão sexual por incidentes que envolvem duas mulheres", um ocorrido em 2004 e o outro em 2013, saindo a seguir algemado da esquadra.
Em tribunal, o produtor ouviu as acusações e ainda que "usou a sua posição, dinheiro e poder para atrair jovens mulheres para situações em que ele foi capaz de violá-las. A investigação está a decorrer e encorajámos outras sobreviventes a apresentarem-se".
Segundo o seu advogado de defesa, Ben Brafman, irá declarar-se inocente: "Temos a intenção de agir rapidamente para invalidar estas acusações. Acreditamos que têm falhas constitucionais.
"Acreditamos que não estão respaldadas por provas", acrescentou Brafman, em frente ao tribunal de Manhattan.
O comunicado das autoridades destaca que as acusações resultaram da investigação conjunta da polícia e do Ministério Público.
Embora a identidade das duas mulheres não tenha sido divulgada, a comunicação social americana avança que a primeira acusação estará relacionada com Lucia Evans, alegadamente forçada a fazer sexo oral durante uma audição em 2004. A segunda, de duas violações, terá ocorrido em 2013.
Harvey Weinstein deverá ainda enfrentar mais complicações legais pois enfrenta vários processos civis em Nova Iorque e Los Angeles, bem como investigações criminais nessas cidades e também em Londres.
Desde as primeiras revelações, mais de 100 mulheres, incluindo atrizes como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e Rose McGowan, afirmaram que foram vítimas de assédio do produtor, com denúncias de agressão sexual e violação.
As investigações do jornal The New York Times e da revista New Yorker - recompensadas com o prémio Pulitzer - mostraram que Weinstein utilizou o seu poder para obrigar jovens atrizes, ou aspirantes, a realizar as suas fantasias sexuais, algumas vezes com a ajuda dos agentes das artistas e comprando o silêncio das suas vítimas com acordos de confidencialidade.
O produtor negou sempre todas as acusações de sexo não consentido e garante que nunca realizou um ato de represália contra as mulheres que rejeitaram os seus avanços sexuais, mas foi demitido pela Weinstein Company ainda em outubro e mais tarde expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (que atribui os Óscares) e outras organizações.
O caso provocou o surgimento do poderoso movimento #MeToo, que afundou a carreira de centenas de homens em diversas áreas, começando pelo cinema e televisão, mas também no mundo da moda, música, gastronomia e imprensa.
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