
O encenador Luis Miguel Cintra protagoniza a exposição “Pequeno Teatro do Mundo”, patente na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, no Porto, a partir de quinta-feira, que reúne milhares de objetos da sua coleção pessoal.
“É uma espécie de festa de fim de vida”, diz Luis Miguel Cintra que descreve a exposição - de que é 'peça central' - como “uma intervenção artística da sua vida pessoal”.
A exposição organizada pela Fundação de Serralves - Casa do Cinema Manoel de Oliveira, com curadoria de Luis Miguel Cintra e António Preto, e coordenação de Carla Almeida, traça uma síntese do seu percurso como ator e encenador, em permanente diálogo com a obra de Manoel de Oliveira, com quem trabalhou em muitos dos seus filmes.
“Esta exposição dá a ver a intimidade de Luis Miguel Cintra, permitindo-nos aceder a um conjunto de peças que foi reunindo de uma forma compulsiva ou avassaladora ao longo dos anos e com particular enfoque depois do encerramento do Teatro da Cornucópia, em 2016, e na sequência do seu afastamento dos palcos, quer como encenador, quer como ator”, começou por explicar o diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, António Preto, antecipando a inauguração da exposição “Pequeno Teatro do Mundo”, que acontece na quinta-feira.
As peças escultóricas da mostra, a que Luís Miguel Cintra chama de “bonecos”, constituem “uma gigantesca companhia de teatro como a qual conviveu no seu apartamento em Lisboa, onde a disposição recusa a designação de coleção para assumir-se enquanto encenação, qual teatro experimental onde cada personagem/boneco comunica entre si."
Rodeado de milhares de figuras que outrora assumiam lugares cénicos distintos na sua casa na capital, Cintra confessa que esta exposição é “um reduto do estilo de vida" que defende, “um testemunho” da vida que viveu e à qual não pode ser atribuído um valor de mercado.
“É o contrário de uma exposição, é estar exposto e quem se expõe sou eu. Estes objetos expõem a minha intimidade e a minha amizade com Manuel de Oliveira”, declarou, assumindo ser sua intenção provocar uma reflexão sobre o valor da vida.
Os objetos vão de presépios a personagens que figuram nas cascatas dos Santos Populares, de bustos de grandes compositores, escritores ou outros criadores, a imagens religiosas e animais de louça, incluindo até uma caveira “verdadeira”.
Estas peças, assegura, não têm valor de mercado. Vivem das histórias de quem os fez ou com quem cruzaram caminho, representando a relação entre uma ou várias pessoas, sendo tão só um meio de ligação com a humanidade.
“O mercado está a reduzir o mundo a ter uma piscina, um automóvel e a ir de férias. Eu gostava que as pessoas pensassem sobre o valor da vida (…). O Manoel de Oliveira fez isso na sua obra. Eu aprendi com ela”, disse.
“Aqui não podem comprar nada. São coisas que testemunham a minha maneira de ser. Agora já não há procissões como as que aqui se formam, as pessoas já não se vestem desta maneira, já não se fazem bustos das pessoas para marcar a presença dessas pessoas no mundo (…). São estas coisas que retêm o estar vivo. Esta exposição testemunha isso”, continuou.
Luis Miguel Cintra (Madrid, 1949) encenou e interpretou centenas de peças, clássicas e contemporâneas, tendo igualmente participado, como ator, em mais de seis dezenas de filmes, sendo uma das presenças mais assíduas da obra de Manoel de Oliveira.
Esta exposição pretende cumprir dois objetivos fundamentais: reencenar, no espaço da galeria, uma síntese do percurso de Luis Miguel Cintra como ator e encenador e, em diálogo com a obra de Manoel de Oliveira, refletir acerca dos pontos de contacto (e de divergência) entre três modos de ver e de dar a ver: o teatro, o cinema e a exposição.
Patente até 4 de janeiro de 2026, “O Pequeno Teatro do Mundo”, de Luis Miguel Cintra, conta ainda com uma vasta programação paralela que inclui uma seleção de filmes feita pelo ator e encenador, entre eles “A Vida dos Espelhos”, de Regina Guimarães e Saguenail, “A Ilha dos Amores”, de Paulo Rocha, e “Acto de Primavera”, de Manoel de Oliveira.
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