
Num mundo cada vez mais digital e de consumo rápido, há qualquer coisa de especial no ato de nos sentarmos numa sala escura e sermos arrebatados por uma história que chega até nós através da música e da dança ao vivo. Os musicais voltaram a conquistar o público — e Portugal não é exceção. Essa tendência é cada vez mais visível na programação de diversos espaços culturais, de norte a sul do país, que apostam em grandes produções e títulos emblemáticos do género.
Nos últimos meses, produções internacionais de peso subiram aos palcos portugueses, com musicais como "O Fantasma da Ópera", "Mamma Mia", "Cats". Ao mesmo tempo, companhias nacionais têm vindo a apostar em sucessos estrangeiros como "RENT", "Tick, Tick… Boom!" e "A Família Addams". Parecem ser poucos os que se queixam da tendência e muitos os que esgotam as salas de espetáculos.
Aproveitando o balanço do entusiasmo renovado pelo género, a Yellow Star Company recuperou a produção que, em 2018, levou milhares de pessoas ao Casino Estoril. Sete anos depois da sua primeira encenação pela companhia, o musical "Grease" está de volta aos palcos portugueses com uma nova produção, que estreia no Capitólio, em Lisboa, no último trimestre de 2025.
Para Carla Matadinho, fundadora da companhia, este é um regresso que "fazia todo o sentido": "'Grease' é um musical intemporal, que marcou e continua a marcar gerações. Sentimos isso logo com o número de jovens que se apresentaram ao casting. Era um desejo antigo trazer o espetáculo no mesmo ano em que regressava à West End, em Londres, mas não conseguimos conciliar na altura. Agora, é o momento certo."
Para além da intemporalidade do espetáculo, esta nova encenação tem um peso simbólico especial: será o primeiro musical a ocupar o palco do Capitólio. "É um orgulho imenso", afirma. "Queremos quebrar o mito de que o Parque Mayer não é para musicais. O Capitólio está no coração de Lisboa, e temos orgulho em contribuir para a sua revitalização."
Com encenação de Paulo Sousa Costa, esta nova montagem traz novidades significativas: desde um novo cenário a um elenco renovado. "O elenco muda tudo", explica o encenador. "Traz nova energia, novas dinâmicas. E vamos trabalhar com a versão do guião usada atualmente em Londres, o que representa uma atualização da narrativa, mantendo-se fiel à sua essência."
A atriz Mariana Marques Guedes volta a dar vida a Sandy, tal como em 2018, sendo a única que não foi sujeita a casting. "Sinto uma enorme responsabilidade. Não posso fazer a mesma Sandy de há seis anos, porque eu também mudei. E a contracena muda tudo – 60% ou 70% de uma personagem depende de quem está com ela em palco."

A nova produção mantém as músicas originais em inglês, uma decisão tomada por Paulo Sousa Costa já na produção de 2018: "Traduzir músicas como 'You're the One That I Want' seria como 'matar o Pai Natal', o público reconhece essas canções tal como são."
Com 17 atores em palco, música ao vivo e uma grande equipa técnica, esta é uma produção ambiciosa e financeiramente exigente. "Às vezes dorme-se mal a pensar nas contas. É muito caro", admite Carla Matadinho. "A Yellow Star não é subsidiada. Vivemos dos bilhetes que vendemos. Temos de encher salas grandes para conseguir levar esta estrutura em digressão."
A digressão nacional está prevista para 2026, após a temporada em Lisboa. "Levar o espetáculo pelo país é um dos maiores desafios logísticos. Mas é também uma das maiores recompensas, ver como o público responde em cada cidade."
Outro aspeto central desta edição é o forte investimento em novos talentos. O casting aberto contou com mais de 200 candidatos. "Deixámos muito talento de fora. Isso prova que há cada vez mais artistas preparados e apaixonados pelo teatro musical", refere Sousa Costa. "Cabe-nos a nós, como companhia com expressão nacional, dar palco a essa nova geração."
Estreado originalmente na Broadway em 1971 e imortalizado pelo filme de 1978 com John Travolta e Olivia Newton-John, "Grease" é um musical que retrata a vida adolescente nos anos 1950, através da história de amor entre Danny Zuko, o típico rebelde charmoso, e Sandy Olsson, uma rapariga inocente e doce. Entre romances, rivalidades e muita música contagiante, o espetáculo combina nostalgia, energia e temas universais como identidade, pertença e transformação.
Com estreia marcada para 3 de outubro, a produção da Yellow Star Company promete celebrar a energia vibrante dos anos 50 com um olhar renovado sobre um dos musicais mais emblemáticos da Broadway – com selo português e energia redobrada.
Os bilhetes já se encontram disponíveis online.
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