
O Teatro Nacional de São João, no Porto, inicia em setembro uma nova temporada com 31 espetáculos, onze dos quais em “estreia absoluta”, de encenadores como os portugueses Nuno Carinhas e Victor Hugo Pontes e o italiano Romeo Castellucci.
A nova temporada, terça-feira divulgada num evento aberto ao público, apresenta uma programação que tem “a(s) língua(s) portuguesa(s) e o teatro de repertório como linhas orientadoras”, e que também 'lança sementes' para os anos seguintes, nomeadamente através de projetos de "responsabilidade social" que deverão envolver novas produções de Marco Martins e o Arena Ensemble, assim como a companhia Terceira Pessoa.
Entre os 31 espetáculos a serem apresentados entre setembro deste ano e julho do próximo ano no Teatro Nacional de São João (TNSJ) e no Teatro Carlos Alberto (TeCA) há “três produções próprias, oito coproduções e quatro espetáculos internacionais”.
Com as três novas produções próprias, o TNSJ “renova a sua aposta no exercício da dramaturgia em língua portuguesa e do teatro de repertório”.
Ainda este ano estará em cena “Branca de Neve & Outros Dramalhetes”, a partir de três poemas dramáticos de Robert Walser (“Branca de Neve”, “Gata Borralheira” e “A Bela Adormecida”), encenada por Nuno Carinhas, “que regressa assim à encenação das criações do São João sete anos após deixar a direção artística da casa”.
A peça estará em cena no São João, entre 20 de novembro e 14 de dezembro, altura em que serão exibidos no Batalha Centro de Cinema, vizinho do TNSJ, dois filmes inspirados na obra literária de Robert Walser, num ciclo denominado “O Teatro Vai ao Cinema, O Cinema Vai ao Teatro”, que marca o início de uma colaboração entre aqueles dois equipamentos.
Em 2026, estreia-se “Inventão”, título provisório de um espetáculo dirigido por Victor Hugo Pontes, “criado a partir da obra de Manuel António Pina (1943-2012), que abraça o teatro, a poesia e as crónicas para construir um universo (en)cantado”, com música de A Garota Não.
Este espetáculo “músico-cénico” estará em cena no São João de 12 de março a 12 de abril.
O encerramento da temporada será feito com “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues, aqui encenada por Miguel Loureiro, que irá contar um elenco de atores brasileiros residentes em Portugal, “selecionados/as numa audição para a qual concorreram cerca de trezentas pessoas”.
A peça estará em cena no São João de 18 de junho a 5 de julho de 2026.
A nova temporada é também marcada “pelo reforço de espetáculos para a infância e juventude, pelo acolhimento de espetáculos internacionais e pelo aprofundamento da responsabilidade social da instituição”.
No próximo ano, sobe a palco “Bérénice”, peça de Jean Racine, encenada por Romeo Castellucci e interpretada por Isabelle Huppert, “dois nomes maiores do teatro europeu contemporâneo”.
A peça, na qual Romeo Castellucci convida a atriz francesa a “afrontar o poema dramático de Racine”, estará em cena no São João entre 17 e 19 de abril.
Também em 2026 estará em cena “Buchettino”, espetáculo histórico dirigido ao público infantil, com encenação de Chiara Guidi, “uma das principais criadoras e pensadoras europeias do teatro para a infância”.
Neste espetáculo, “construído a partir do conto ‘O Pequeno Polegar’, de Charles Perrault”, o palco é transformado num contentor acústico com 50 camas, onde as crianças se deitam para ouvir a história narrada por uma atriz.
“Buchettino”, “apresentado consecutivamente em todo o mundo há 30 anos”, estará em cena no TeCA entre 13 e 17 de maio.
Em janeiro, entre os dias 15 e 17, é apresentado “Sentinelles”, com texto, encenação e cenografia de Jean-François Sivadier.
Na criação desta peça, Sivadier inspirou-se no romance "O Náufrago", ficção no qual o escritor austríaco Thomas Bernhard “imagina as relações de um trio de pianistas virtuosos", assombrados pela presença omnipotente de Glenn Gould, "para investigar as fronteiras sempre misteriosas entre o talento e o génio, a música e o teatro”.
No início da nova temporada, entre 2 e 5 de outubro, o São João acolhe um espetáculo “nunca apresentado na Europa”: “Língua Brasileira”, com direção cénica de Filipe Hirsch e música e letras de Tom Zé, “dois grandes nomes da cultura brasileira contemporânea”.
Este espetáculo reúne em palco seis atores e quatro músicos, “para dar a ver e a ouvir a epopeia dos povos que formaram o português escrito e falado no Brasil”.
Também em outubro, entre os dias 16 e 19, o TNSJ homenageia o encenador Ricardo Pais, que “criou o ideário e pensou toda a estrutura” do São João, dedicando um programa especial “RP80”, no ano em que este completa 80 anos de vida.
O programa “RP80” é composto por quatro momentos: a reposição de “Turismo Infinito” e de “al mada nada”, a apresentação do livro “Despesas de Representação: Ditos e Escritos (1975-2025)”, que reúne textos e entrevistas do encenador, e a realização de “Estúdio 7”, um workshop dirigido a jovens atores, no qual Ricardo Pais “explora cenas emblemáticas de amor e sedução da dramaturgia universal”.
Na nova temporada, TSNJ “reforça a sua colaboração com companhias de teatro sediadas na região Norte, especialmente na cidade do Porto, encenando textos de grandes autores do repertório dramático universal”.
Entre as companhias que irão apresentar espetáculos estão a Ensemble – Sociedade de Actores, o Teatro da Didascália, a Noitarder e o Teatro da Palmilha Dentada.
No âmbito da responsabilidade social, o TNSJ "aprofunda o compromisso", para o biénio 2025-2027, de estabelecer "outros modos de relacionamento com populações marginalizadas ou desfavorecidas".
A partir de "Memórias do Cárcere", de Camilo Castelo Branco, o TNSJ convidou a companhia Terceira Pessoa a desenvolver, a partir de outubro deste ano, "um projeto participativo e pluridisciplinar com o objetivo de cocriar um espetáculo de teatro com reclusos do Estabelecimento Prisional de Vale do Sousa", que deverá ser apresentado nesta prisão, no próximo ano, e nos palcos do São João, no Porto, e do Theatro Circo, em Braga, em 2027.
Sobre as populações migrantes, "o TNSJ confiou ao encenador Marco Martins e à sua equipa do Arena Ensemble um desígnio": mapear as suas realidades, respeitar as suas diferentes identidades, "e construir com elas um universo de ficções que transcendam o horizonte sociológico".
O projeto tem início marcado para o segundo semestre de 2026, e culminará num espetáculo a apresentar em 2027, "num dos palcos do Teatro Nacional São João".
Quanto a pessoas em situação de sem-abrigo, na sequência de atividades desenvolvidas desde o ano passado - e com o propósito de reforçar o objetivo de integração -, "foi lançado um convite a uma companhia do Porto para desenvolver em 2026 um projeto de palco" que envolva pessoas em situação de emergência social.
A programação completa do TNSJ para a temporada 2025-2026 está disponível no 'site' oficial deste teatro.
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