Catarina Furtado está prestes a mostrar novamente o seu lado mais solidário e humano na 3ª série de «Príncipes do Nada», programa da RTP que divulga o trabalho desenvolvido por cidadãos empenhados em ajudar o próximo em diferentes países de expressão portuguesa.
A apresentadora, que ocupa o cargo de embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) há mais de uma década, decidiu partilhar o seu testemunho sobre esta viagem ao Sudão do Sul com o SapoTV.
«Sudão do Sul, o mais jovem país do Mundo que teve a sua independência em julho de 2011. Foi emocionante ver a comoção e o orgulho do povo pelo facto de terem, finalmente, conseguido a sua independência.
O país está ainda a juntar tijolos para depois passar para a governação. Sente-se isso nas pessoas, nas ruas da capital Juba e no dia a dia ainda incerto devido aos recentes conflitos sempre de origem étnica e religiosa. Este é um dos países menos desenvolvidos do mundo. É muito chocante ver em que condições, abaixo daquilo que seria aceitável para um ser humano, vive a maior parte da população sudanesa. 80% não tem acesso a cuidados de saúde básicos! O acesso a água potável é um luxo! A taxa de mortalidade materna é considerada a mais elevada do mundo e a taxa de mortalidade infantil indica que uma em cada quatro crianças morre até aos 5 anos. Menos de 10% das crianças chega a completar o ensino primário! 92% das mulheres não sabe ler nem escrever.
Depois de mais de 20 anos de guerra ( e mais de 50 de conflito) que provocaram milhares de mortos, deslocados e refugiados, a mais recente Nação vê agora a entrada dos países vizinhos que acreditam que podem aqui ter uma possibilidade económica.
O bom e o mau mais uma vez se misturam e assim, com a pobreza extrema, o desespero (levado tantas vezes ao limite com problemas de álcool), a ignorância (falta de acesso a serviços de Educação) e outros factores, fica, como sempre, para as mulheres e para as crianças o pior e mais dramático papel. São elas as maiores vitimas quer da pobreza quer da violência.
Entrevistei meninas (e meninas de rua) que ainda crianças estão habituadas a achar que não têm direitos e que não podem gostar nunca de si próprias. Estão com 11, 12, 13 anos na prostituição, são violadas aos 5, 6 anos, vendidas em troca de vacas aos 10, obrigadas a casar com homens de 60 anos, impedidas de ir à escola, anuladas.
Acompanhámos o trabalho extraordinário que a ONG CCC (Confident Children out of Conflict) faz no terreno tirando as meninas destes ambientes e permitindo que possam ir à escola e ter outros sonhos e oportunidades para que um dia ajudem também o seu país a desenvolver-se.
Com os missionários Combonianos portugueses, o Padre José Vieira (jornalista) e o Irmão António Nunes (enfermeiro) percorri a cidade e fiquei a conhecer bem de perto quer as fragilidades ao nível da segurança do país quer ao nível da saúde e da educação.
Testemunhei o trabalho do Fundo das Nações Unidades para a População (UNFPA) na Maternidade que visa reduzir a taxa de mortalidade materna e no único Hospital Pediátrico através dos projetos da UNICEF para reduzir a taxa de mortalidade infantil.
A esperança média de vida no Sudão do Sul é de 45 anos, mas apesar de tudo, espera-se que este recomeço, do zero, traga outra esperança às próximas gerações. E esse sentimento foi-me passado.
Desejo que consigamos, eu, o realizador Ricardo Freitas e o repórter de imagem Hugo Gonçalves (produtora Até ao Fim do Mundo) passar através da 3ª série do programa «Príncipes do Nada» todos os bons exemplos de quem anda a lutar por um mundo bem mais justo.
Catarina Furtado»
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