
As estreias de "Só mais uma gaivota", novo projeto da companhia Formiga Atómica, e da ópera "Adilson", de Dino D'Santiago, no âmbito da bienal BoCA, em setembro, abrem a programação do último trimestre do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Os 50 anos da companhia de Teatro O Bando, numa celebração conjunta da obra de Agustina Bessa-Luís em "Agustinopólis", a apresentação em Portugal de "Os intransponíveis Alpes, à procura do Currito", da coreógrafa espanhola María del Mar Suárez, no âmbito do festival Alkantara, e de "Tebas Land", de Sergio Blanco, mantêm a atenção nas artes de palco, reforçada com novas criações da atriz e encenadora Raquel Castro e das bailarinas e coreógrafas São Castro e Teresa Alves da Silva, segundo a programação publicada pelo Centro Cultural de Belém (CCB).
A música, no entanto, está sempre presente ao longo dos três últimos meses do ano, com atuações da cantora e compositora Cécile McLorin Salvant, numa fusão premiada pelos Grammy, do pianista François-Frédéric Guy e do violinista Julien Chauvin, de formações como o Ensemble Bonne Corde e o Gabetta Consort, sem esquecer o fado de Teresinha Landeiro e José Geadas, os concertos da Orquestra Metropolitana de Lisboa e da Orquestra de Câmara Portuguesa, nem da Sinfonietta de Lisboa e da Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP) e do Coro do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), que hão-de encerrar dezembro com a "Missa para a noite de Natal", de Ponchielli.
O início de um ciclo de conversas "Sobre a verdade da mentira", numa época em que "as redes sociais se tornaram a principal fonte de informação", e de um outro sobre música, ambos a prolongarem-se por 2026, são outras propostas do CCB, que tem em aberto uma "‘call’ de âmbito internacional", até novembro, para escolha da nova Direção das Artes Performativas.
A ópera em cinco atos de Dino D’Santiago, "Adilson", com libreto de Rui Catalão e direção musical de Martim Sousa Tavares, abre a programação do CCB em 12 de setembro. Resultado de uma encomenda da BoCA — Biennial of Contemporary Arts, a obra acompanha "a jornada de um homem afrodescendente, nascido em Angola, filho de pais cabo-verdianos, que vive há mais de 40 anos em Portugal, sem nunca ter obtido cidadania portuguesa."
"Adilson representa milhares de pessoas deixadas nas margens do sistema", lê-se na sinopse da obra. "A ópera transforma a espera em poesia e faz da invisibilidade um ato de resistência. No culminar da obra, ouve-se o grito que ecoa além do palco: 'Eu não sou português. Eu sou Portugal. Um país à espera.'"
A primeira encenação de Dino d’Santiago, que terá três récitas no CCB antes de seguir para o Theatro Circo, em Braga, assinala os 50 anos do fim da presença colonial e militar portuguesa nos territórios africanos.
"Só mais uma gaivota", de Inês Barahona e Miguel Fragata, que compõem a estrutura Formiga Atómica, segue-se no palco do CCB, em 18 de setembro, para ficar em cena até dia 28, com manifestações paralelas.
A partir da memória da montagem de "A Gaivota", de Tchekhov, no final do curso de Teatro de Miguel Fragata, a peça propõe uma "busca do destino" dos atores que a puseram em cena, 20 anos depois, e "recupera fiapos das personagens, procurando imaginar a continuação do IV ato do texto".
Com o espetáculo vem a residência e exposição "Diverse Laridae", resultado do convite a jovens artistas para porem em diálogo o texto original com o mundo de hoje, e o documentário "Gaivotas em terra", com entrevistas aos atores que compuseram o elenco há duas décadas.
O Teatro O Bando, que celebra 50 anos em 15 de outubro, leva ao CCB o projeto "liberaLinda" que procura "revisitar com os olhos de hoje alguns momentos" da companhia. O projeto acolhe a exposição de 24 figurinos do grupo, suspensos ao ar livre, numa homenagem às atrizes, atores e figurinistas que passaram pel’O Bando.
A instalação "madruGada", estrutura penetrável com diapositivos alusivos aos 48 anos de ditadura, e o documentário "oKupação", realizado por Rui Simões, a partir da ocupação teatral da redação da TSF que teve lugar a 24 de abril de 2014, também fazem parte do projeto.
"A partir da feliz coincidência" de partilhar a data de nascimento com Agustina Bessa-Luís, o Teatro O Bando uniu-se à Associação Setúbal Voz para criar um espetáculo operático e teatral, com encenação de João Brites e música de Jorge Salgueiro, para a criação de "Agustinópolis", que cruza uma miríade de personagens e situações da obra da escritora. O espetáculo também resulta do convite da escritora e artista plástica de Mónica Baldaque, filha de Agustina, e da Comissão Organizadora do Centenário de Agustina Bessa-Luís.
A 'ocupação' do CCB pel'O Bando tem início em 15 de outubro. A estreia de "Agustinópolis" está marcada para dia 17, seguida de mais duas récitas.
No teatro, há ainda a estreia de "Ansioliticamente falando", de Raquel Castro, em 31 de outubro, e a apresentação de "Tebas Land", de Sergio Blanco, obra inaugural da "Trilogia Sul Americana" do encenador Rubén Sabbadini, sobre "textos centrais do teatro contemporâneo latino-americano". Esta peça ficará em cena de 13 a 16 de novembro.
Na dança, há "hOLD", de São Castro e Teresa Alves da Silva, "uma escuta sensível" sobre "o envelhecimento não apenas como questão biológica, mas como construção social", que se estreia em 09 de outubro.
Até dezembro realizam-se ainda as oficinas Afinidades Criativas, com artistas e estruturas como Gaya de Medeiros, Aurora Negra e Os Possessos.
Um tributo a Peter Brook (1925-2022), em 22 de novembro, concretiza-se numa conversa com o seu filho, o cineasta Simon Brook, e a exibição de "Mahabharata", "a emblemática adaptação cinematográfica da epopeia indiana", posta em cena pelo encenador.
A programação integral está disponível no 'site' do CCB.
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